
O que vinha de si era água que corre em pedras no riacho. O que vinha de si era do calor de um abraço em dia frio. O que vinha de si era como quando uma criança abre um presente que ela já sabe o que é, mas mesmo assim fica surpresa e feliz. O que vinha de si era da pluralidade de uma infinita piscina de bolinhas coloridas. E a roda gigante girava luminosa ao lado, contrastando alta com o céu escuro. Muitos pais e muitos filhos ali, e ali também estavam os dois.
Incapacitados de qualquer afeto – mas não porque não queriam, mas sim porque não podiam – incapacitados, mas desejosos, se olharam. Em ambos os olhos, havia uma infinidade transcendente de luzes castanhas que, para alegria e surpresa de ambos, era recíproca. Ele, confesso, ele temia que fosse só de sua parte toda a expectativa da possibilidade. Mas então, movido por uma inconsciência corajosa, arriscou entregar sua infinidade naquele olhar. Mas como tornar física a aceitação de que lhe era melhor a entrega, mesmo que ainda houvesse medo dela? Ele não sabia. Mas o outro soube. Caminharam até o vendedor de algodão doce e cada um comprou um para si. Se sentaram no banco. Quem por ali passasse nada veria, mas para ambos, os algodões doces, eram um afeto que estava entre um beijo, um abraço e um sorriso. Distraídos se descuidaram, e quando viram já haviam terminado o doce, e com ele a flutuação. Por um instante houve um pouco de morte em cada um. Mas se olharam, e os olhos tiveram a presença de uma abstração. Abstraíram, como sempre fizeram, e era isso que sempre os salvava.